Descrição
Conjunto de joias conhecido como “joia de crioula”, composto por um colar de alianças em prata dourada e um par de brincos de argolas em ouro com aplicação central em cornalina. As peças são provenientes da Bahia e datadas do século XIX.
O colar apresenta uma sequência de elos ovais entrelaçados, com acabamento dourado, formando uma corrente contínua de visual robusto e elegante. Os brincos seguem o estilo de flor, com estrutura circular dourada e pedra central de cor avermelhada (cornalina), comum nas joias utilizadas por mulheres negras alforriadas ou libertas no período.
Este conjunto expressa elementos estéticos e simbólicos associados à cultura negra nas cidades coloniais, sendo tradicionalmente usado como forma de distinção social, devoção religiosa e afirmação cultural no contexto urbano baiano do século XIX.
Contexto de produção
Objetos tridimensionais produzidos em ouro, prata e cornalina, as chamadas jóias de crioula foram confeccionadas, muito provavelmente, por ourives negros na Bahia dos séculos XVIII e XIX. Associadas às mulheres negras livres ou libertas , essas joias representam expressões marcantes da cultura afro-brasileira, carregando significados ligados à proteção espiritual, ao status social e à afirmação identitária.
Essas peças são compostas por correntes de elos simples ou dobrados, correntões esféricos — lisos ou ornamentados —, argolas com pedras semipreciosas, entre outros elementos. Em muitos casos, incorporam ainda materiais como coral, marfim ou madeira, enriquecendo seu valor estético e simbólico.
Apesar da aparência opulenta, essas joias não eram feitas de metal puro ou maciço. O que se buscava era o impacto visual — a capacidade de a peça aparentar riqueza, independentemente do valor real da matéria-prima. Para alcançar esse efeito, os ourives, muitas vezes anônimos e de possível origem africana, aplicavam técnicas refinadas como a filigrana e o cinzelado, que ampliavam a superfície de brilho e conferiam às peças uma aparência de leveza e esplendor.
Mais do que simples ornamentos, as jóias de crioula são testemunhos materiais da presença negra na formação cultural brasileira. Elas expressam a criatividade técnica dos artesãos e a agência simbólica e estética de mulheres negras que, em um contexto marcado por profundas desigualdades raciais e sociais, utilizavam esses adornos como ferramentas de visibilidade, orgulho e resistência.