O "Livro de Traças de Carpintaria" foi produzido durante um momento de forte desenvolvimento das artes construtivas em Portugal, em plena transição do período manuelino para o domínio filipino (União Ibérica, 1580–1640). Com o crescimento da construção civil, das fortificações, da expansão ultramarina e da arquitetura religiosa, havia uma demanda por técnicas padronizadas e registros visuais que servissem de guia para os mestres construtores e carpinteiros. A obra faz parte da tradição dos livros de traças ou riscos, comuns nas corporações de ofícios da época, em que mestres documentavam esquemas, cálculos e formas de produção.
Trata-se de um manual técnico de carpintaria de cantaria, voltado principalmente para a traçagem geométrica de estruturas em madeira e pedra, com aplicações em abóbadas, escadas, arcos e outras estruturas complexas. O livro contém desenhos técnicos e instruções geométricas, servindo como guia didático e prático para o ensino e transmissão do saber dentro das corporações de ofício.
A obra é um dos mais antigos tratados técnicos da Península Ibérica sobre carpintaria e construção. Revela a sofisticação geométrica e matemática do saber construtivo da época, sendo uma fonte fundamental para a história da arquitetura, da engenharia e das práticas artesanais em Portugal e suas colônias.