Description
A exposição Nhe’ẽ Porã: memória e transformação apresentou um mergulho na história, nas memórias e na atualidade das línguas indígenas faladas no Brasil, por meio de um potente diálogo entre arte, ancestralidade e resistência. Com curadoria de Daiara Tukano, cocuradoria da antropóloga Majoí Gongora, consultoria especial da linguista Luciana Storto e em diálogo com Isa Grinspum Ferraz, curadora especial do Museu da Língua Portuguesa, a mostra contou com a participação de cerca de 50 profissionais indígenas – entre artistas visuais, cineastas, acadêmicos, educadores e comunicadores digitais.
O título da exposição veio da língua Guarani Mbya: nhe’ẽ significa espírito, sopro, vida, palavra, fala; e porã, belo, bom. Juntas, as palavras compõem a expressão “belas palavras” ou “palavras sagradas”, evocando o papel vital das línguas na experiência humana e espiritual dos povos originários.
Instalada originalmente no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, entre outubro de 2022 e abril de 2023, Nhe’ẽ Porã recebeu mais de 189 mil visitantes. Para sua apresentação no Hall Ségur, foi concebido um recorte especial com destaque para obras e pesquisas produzidas exclusivamente para a mostra.
Logo na entrada da exposição, os visitantes eram recebidos por uma instalação composta por árvores de tecido, desenhadas por Daiara Tukano, que representavam as grandes famílias linguísticas indígenas faladas no Brasil. A obra era acompanhada de registros sonoros das línguas Tupi, Macro-Jê, Pano, Aruak, Karib, Tukano e das línguas isoladas Arutani e Yaathe, criando uma imersão sensorial no universo das línguas originárias.
Outro destaque foi o mapa Terra de muitos cantos – famílias linguísticas originárias das Américas, produzido especialmente para a exposição. Apresentado de cabeça para baixo, o mapa destacava a América do Sul e a diversidade linguística do continente, rompendo com padrões cartográficos convencionais e reforçando novas formas de olhar os territórios.
A instalação visual Chuva de Palavras, uma projeção de poema de Daiara Tukano traduzido para diversas línguas indígenas com vídeo mapping desenvolvido pelo Estúdio Bijari, esteve presente, assim como a animação Resistência Indígena, também realizada em parceria com o Estúdio Bijari. A obra denunciava os impactos da colonização sobre as línguas originárias desde 1500, associando os conflitos e perseguições históricos ao desaparecimento dessas línguas – das quais restam apenas 175 ainda faladas no Brasil.
A mostra apresentou também o filme Marcha dos Povos Indígenas, dirigido por Kamikia Kisêdjê, além de uma linha do tempo que percorreu os processos de contato, violência e resistência dos povos indígenas desde o século XVI até os dias atuais. A linha do tempo evidenciava não só as perdas e enfrentamentos, mas também a resiliência, riqueza e multiplicidade das formas de expressão das línguas indígenas brasileiras.
Por fim, os visitantes tiveram acesso à versão virtual da exposição montada originalmente em São Paulo, permitindo aprofundar ainda mais a experiência proposta por Nhe’ẽ Porã: memória e transformação – uma celebração da força viva das palavras indígenas e da luta por sua preservação e valorização.