Description
Belém foi a primeira cidade brasileira a receber a itinerância da exposição Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação, realizada pelo Museu da Língua Portuguesa. A mostra propôs um mergulho na história, na memória e na realidade atual das línguas dos povos indígenas do Brasil, por meio de objetos etnográficos e arqueológicos, instalações audiovisuais e obras de arte. Seu objetivo foi apresentar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, as histórias, memórias e identidades desses povos, evidenciando suas trajetórias de luta e resistência, bem como os cantos e encantos de suas culturas.
Uma das principais novidades da edição em Belém foi a incorporação de objetos das coleções de arqueologia e etnografia salvaguardadas pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, instituição reconhecida internacionalmente por seu acervo de referência sobre a Amazônia. Entre os itens destacados estavam botoques – adornos utilizados para o alargamento do lábio inferior – e tembetás – peças de quartzo tradicionalmente colocadas sob os lábios. Ambos são símbolos que remetem à valorização da oratória e da escuta entre diversos povos indígenas. Também integrou a mostra um raro banco esculpido em quartzo, associado, na cosmovisão tukano, à avó do universo, Yepário.
A exposição partiu da concepção de que "língua é pensamento, língua é espírito, língua é uma forma de ver o mundo e apreciar a vida", conforme definido por sua curadora, a artista indígena Daiara Tukano. O título da mostra, em Guarani Mbya, expressa essa visão: nhe’ẽ significa espírito, sopro, vida, palavra, fala; porã, por sua vez, quer dizer belo, bom. Juntos, os termos remetem a "belas palavras", "boas palavras" – palavras sagradas que dão sentido à experiência humana sobre a Terra.
Com trajetória de mais de 150 anos em pesquisa, preservação e divulgação das culturas indígenas, o Museu Goeldi contribuiu ainda com o projeto Replicando o Passado, desenvolvido em parceria com ceramistas do distrito de Icoaraci, em Belém. Fruto dessa iniciativa, foi incluída na exposição uma réplica de urna funerária marajoara, originalmente criada por povos indígenas que habitaram a região amazônica desde aproximadamente o ano 500.