Durante os séculos da escravidão, a religiosidade e a fuga foram formas essenciais de resistência à perda de identidade imposta pelo cativeiro. Nos rituais secretos dos calundus e no isolamento estratégico dos quilombos, os escravizados buscavam preservar os valores e tradições herdados de seus antepassados. O sociólogo Roger Bastide destaca que essas práticas representavam um esforço para manter vivos os alicerces culturais africanos.
Os calundus foram os primeiros espaços de culto que deram origem ao candomblé no Brasil, conforme aponta o antropólogo Antonio Risério. Já os quilombos, inicialmente chamados de "mocambos", existiram ao longo de toda a vigência da escravidão, consolidando-se como territórios de resistência e liberdade.
O mais emblemático foi o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, a maior comunidade de escravizados fugitivos da América portuguesa. Ativo entre 1597 e 1695, chegou a abrigar cerca de 20 mil habitantes, incluindo africanos e indígenas. Seu maior líder, Zumbi (1655-1695), tornou-se um símbolo da luta dos escravizados e da resistência negra no Brasil, cuja memória permanece viva até os dias de hoje.
Para a reabertura do Museu da Língua Portuguesa, após o período de reforma decorrente do incêndio, a Exposição de Longa Duração foi revisitada, evidenciando a necessidade de incorporar novos itens expositivos. Nesse contexto, foi realizada uma curadoria criteriosa para a seleção dos elementos que comporiam a mostra, incluindo a imagem da obra "Homem Negro" de Albert Eckhout . O licenciamento dessa imagem foi viabilizado por meio de um contrato firmado com a Fundação Roberto Marinho e o Museu Nacional da Dinamarca, com prazo de direito de uso da imagem por dez anos.