Nome
Bandeiras Interativas
Description
O ambiente estava tomado por fumaça, que se espalhava discretamente pelo sistema de ar-condicionado. A baixa visibilidade aludia à frase de Riobaldo — “Diadorim era minha neblina” — e revelava uma estratégia sensível de Bia Lessa para concentrar a atenção do espectador nas palavras que seriam lidas. Logo após o túnel de entrada, o visitante chegava a uma sala preenchida por varais, nos quais “bandeiras” retangulares de tecido estavam suspensas. De cada uma delas, pendia um fio numerado. À medida que se aproximava, o público percebia que as bandeiras reproduziam páginas da terceira edição datilografada do romance, ainda com o título provisório de “Veredas mortas”. Minuciosamente revisada a lápis de cor pelo próprio autor, essa versão revelava o processo criativo de Guimarães Rosa e foi gentilmente cedida pelo bibliófilo José Mindlin, o maior colecionador de livros raros do país. As bandeiras, presas ao teto por roldanas, desciam à altura dos olhos sempre que o visitante puxava o fio correspondente ao número de cada página. Dois pequenos saquinhos de terra, coletada na região de Minas Gerais onde se ambienta o romance, serviam de contrapeso e completavam a engenhosa instalação. Complementando a imersão, sons característicos do sertão mineiro — como o trote de cavalos e o murmúrio dos rios que atravessam o percurso de Riobaldo — integravam a trilha sonora da exposição, criada por Dany Roland e composta a partir de arquivos sonoros do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB).