Description
A primeira mostra temporária do Museu da Língua Portuguesa celebrou os 50 anos do romance “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa, e destacou a multiplicidade de leituras possíveis da obra-prima do escritor mineiro. Concebida pela diretora Bia Lessa, a exposição contou com a participação especial da cantora Maria Bethânia, que leu as últimas 14 páginas do livro, narrando com emoção a morte de Diadorim.
A mostra convidou o visitante a percorrer as veredas de Rosa por meio de sete caminhos, cada um deles relacionado a um personagem — como Riobaldo, Diadorim e o Diabo — ou a um tema central da narrativa. Com isso, o público pôde vivenciar o espaço expositivo de pelo menos sete maneiras distintas, refletindo os múltiplos percursos da leitura rosiana.
“Grande sertão: veredas” foi uma exposição feita unicamente de palavras — sem fotografias nem imagens. O espaço temporário do museu transformou-se em um cenário em construção: o piso de cimento aparente e as janelas sem vedação revelavam o Parque da Luz e o movimento urbano ao redor da Estação da Luz, estabelecendo um diálogo entre literatura, paisagem e cidade.
Bia Lessa evitou o formato tradicional de galeria de arte e propôs uma mostra em construção, assim como o texto de Rosa ou qualquer processo literário. Para conceber a exposição, contou com a consultoria da especialista Marily Bezerra e o apoio de pesquisadores do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB).
A experiência começava por um túnel revestido por críticas e reportagens publicadas sobre “Grande sertão: veredas”, que apresentavam a recepção crítica da obra na imprensa brasileira. Esse túnel foi a única referência direta ao autor, já que a proposta da diretora não era montar um panorama didático sobre Guimarães Rosa, mas sim oferecer uma vivência sensorial e imersiva do impacto que a leitura provoca.
Após o túnel, o visitante mergulhava em um grande canteiro de obras. Os módulos expositivos eram compostos por tijolos, latões de óleo, tábuas e restos de telhas, que serviam de suporte para trechos do livro, criando um ambiente poético, rústico e simbólico, em perfeita sintonia com o universo rosiano.