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Marília de Dirceu é uma obra fundamental da literatura luso-brasileira do século XVIII, escrita por Tomás Antônio Gonzaga, poeta, jurista e figura central da Inconfidência Mineira. Trata-se de uma coletânea de liras poéticas de tom lírico-pastoral, em que o autor assume o pseudônimo poético de Dirceu e dedica seus versos à amada Marília, inspirada em Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, sua companheira real.
A primeira parte da obra foi publicada em 1792, na cidade do Porto (Portugal), quando Gonzaga já estava preso acusado de envolvimento na Inconfidência. O livro reflete as dualidades de seu tempo: o ideal iluminista e o classicismo ainda predominante, a luta pela liberdade e o aprisionamento político, o amor idílico e a realidade da perseguição.
A obra está dividida em três partes:
Parte I (1792): composta por liras amorosas, de tom pastoral e arcádico, que celebram a natureza, o amor e a simplicidade bucólica.
Parte II (publicada em 1799): escrita no cárcere, tem um tom mais introspectivo, melancólico e político.
Parte III (póstuma): de autenticidade contestada por alguns estudiosos, aprofunda o lirismo sentimental e o sofrimento do poeta.
A linguagem, os temas e o estilo remetem ao Arcadismo, movimento literário que propunha o retorno aos valores da Antiguidade clássica, com simplicidade, equilíbrio e idealização da vida no campo. No Brasil, o Arcadismo foi também expressão de um desejo de autonomia, de crítica à opressão colonial e de valorização da natureza e da identidade local.